“Não passei mais uma vez! Foram tantas renúncias, tantos sofrimentos, e quando penso que estava perto de realizar meu sonho… Mais uma reprovação. Não aguento mais, não consigo continuar!”
Se eu ganhasse um real a cada vez que escuto pronunciamentos como esse no começo do ano, certamente eu estaria agora escrevendo essa carta sentado em uma cadeira de praia nas Maldivas, enquanto sinto a brisa do mar e tomo uma água de coco geladinha.
Bom, eu poderia escrever sobre como a reprovação não define quem você é ou quem você ainda pode vir a ser.
Mas eu sinceramente acredito que tá todo mundo um pouco cheio desse blablabla de “você é maior que uma nota”, então resolvi escrever sobre uma outra realidade.
Uma realidade mais dura, mas que se internalizada pode salvar o seu ano de 2025 e te colocar mais próximo da aprovação.
Antes eu preciso lembrar que, se o seu objetivo era ser aprovado no Enem este ano e você não o alcançou, estar triste nesse momento é normal.
O que NÃO é normal - mesmo que sua nota tenha sido muito abaixo do esperado ou que você não tenha sido aprovado pelo terceiro ano consecutivo - é perder completamente as esperanças ou pensar que tudo está perdido.
Em geral, apesar da dor da reprovação, se você abrir os olhos verá que - PASMEM - pouca coisa mudou entre o dia em que a nota saiu e os dias anteriores a ele:
Você ainda tem saúde; sua família ainda está com você (mesmo que tristes ou um pouco chateados); seus amigos não te abandonaram; você ainda tem onde morar, o que comer etc.
(Na pior das hipóteses, se você decidir não jogar seu sonho no lixo e estudar mais um ano, a sua maior preocupação vai ser conciliar os estudos com um trabalho, caso seus pais não tenham mais condições de sustentá-lo. O que, convenhamos, não é nenhum bicho de 7 cabeças e muito menos impede que você seja aprovado ainda esse ano).
O problema é que a tristeza nos torna mais retraídos e introspectivos, e com frequência direciona os nossos pensamentos para os piores aspectos da nossa vida.
Assim, nos tornamos suscetíveis a confundir a parte pelo todo e começamos a perceber os nossos fracassos com um certo exagero.
É como se usássemos, em vez de óculos, grandes lupas nos olhos, que têm seu foco somente nos maiores problemas e não enxergam nada além deles.
Eu sei que parece óbvio, mas não custa lembrar que uma reprovação no vestibular não é uma reprovação na vida.
Devemos concordar que a sua vida não está acabada e precisar estudar mais um ano, apesar de chato, não é de longe a pior coisa que poderia acontecer com você, certo?
Na verdade, se você chegou até aqui já deve ter percebido que os fracassos são uma parte dolorosa, mas inescapável da vida.
Em outras palavras, a vida não é um morango e se você quiser uma morangada vai precisar plantar a semente, regar a morangueira e colher o morango, para só então aproveitar o suco.
Mas nem tudo está no seu controle e nem sempre as coisas acontecem como você idealizou. (Bem-vindo à vida adulta).
Se no meio da plantação vier uma praga ou uma seca, talvez você precise adiar um pouco seus planos e continuar o trabalho com paciência.
Você também tem a opção de desistir da morangada, mas assim você jamais tomaria o suco e possivelmente carregaria esse arrependimento pelo resto da vida.
Tudo bem… não podemos negar que é muito válido nos perguntarmos até que ponto aquele objetivo é importante para nós e o quanto queremos ele.
Eu mesmo estudei 2 anos para medicina até perceber que eu não queria ser médico, mas psicólogo. (Essa é uma história que conto em outro momento).
Entretanto, para responder a essas perguntas, é necessário ter muita sinceridade e um cuidado redobrado com as emoções que tentam nos dominar quando estamos tristes.
Se você se deixar convencer pela tristeza, pode acabar tomando decisões muito precipitadas, que vão custar caro lá na frente.
Mas voltemos à morangada:
Imagine dizer a si mesmo pelos próximos 30 anos que você nunca provou a tão sonhada morangada porque desistiu de buscá-la na primeira ou segunda seca que atingiu a plantação?
Não sei você, mas essa certamente não é a história que eu gostaria de contar para os meus filhos.
No fim das contas, eu gostaria que você entendesse que aquilo que realmente diferencia aqueles que têm sucesso (os que são aprovados) daqueles que não têm não é a quantidade de derrotas que tiveram, mas a capacidade de se recompor após cada queda e continuar lutando.
É verdade que a reprovação pode parecer um atraso ou uma perda de tempo, mas também não é como se a pressa e o desespero resolvessem as coisas.
Se você não parar agora, em alguns anos estará rindo da própria cara, pensando o quanto era imaturo por não entender que as coisas acontecem no tempo certo - e muitas vezes esse tempo não é o seu, mesmo que pareça que já passou tempo demais ou que Deus esqueceu de você.
Esses 3, 4, 5 anos que você “perdeu” no cursinho não serão nada perto de todos os anos que você viverá como médico, por exemplo. (Se você quer medicina).
Inclusive, quem raios disse que é a aprovação que determina se um ano foi perdido ou não?
O que realmente dá o valor do seu ano não é necessariamente a aprovação, mas o quanto você conseguiu aproveitar das suas circunstâncias para se tornar uma pessoa melhor.
(Quando digo uma pessoa melhor, também quero dizer estudante melhor, claro).
A questão é que você só vai começar a evoluir de verdade quando aprender a aproveitar não somente suas vitórias, mas também suas derrotas.
Isso porque existe uma sabedoria oculta por trás de cada fracasso e deixar que ela passe despercebida é um erro que te impede de amadurecer.
Para encontrar essa sabedoria você pode começar se permitindo viver a tristeza que vem da decepção - sem negá-la, mas também sem se deixar ser tomado por ela.
Depois, é necessário voltar os olhos para o passado e se perguntar:
Onde eu errei?
Que capacidades ainda não possuo?
Onde ainda posso melhorar?
Quais atividades ou habilidades eu negligenciei?
Por último, mas não menos importante, é preciso colocar os olhos no horizonte, no futuro, com esperança e disposição.
Olhar para o passado sem olhar para frente é a receita para uma lamentação que empurra você para as profundezas da tristeza.
Ao passo em que olhar somente para o futuro, sem considerar os próprios vícios, lacunas e incapacidades, é a melhor maneira de se enganar e negligenciar os pontos que mais precisam de atenção, e assim permanecer estagnado ou evoluindo a passos de tartaruga.
Por fim, essa articulação entre passado e futuro precisa levar a uma decisão firme e corajosa de superar seus vícios e continuar lutando pelo seu sonho a partir de agora, no presente.
Não se deixe dominar pela tristeza, levante a cabeça, tome coragem e enfrente com disposição as lutas que sua vida está impondo a você.
Você pode não sentir isso agora, mas o seu esforço será recompensado e sua caminhada valerá a pena.
Siga firme e seja fiel até o fim!
Quem dura mais, vence.